quarta-feira, julho 25, 2012

Listas inúteis

Nesta época do ano é habitual aparecerem, publicadas um pouco por todo o lado, listas de livros recomendados para as leituras de Verão. Os jornais e as revistas não costumam perder a oportunidade de solicitar a diversas personalidades (umas mais públicas do que outras) que forneçam um rol de títulos que lhes pareçam interessantes.

E as figuras fazem-no, enviam os seus palpites, as suas listas, as mais das vezes inúteis, revelando os autores da sua preferência ou, pelo menos, da preferência de quem elabora a dita lista por elas.

É bom não esquecer que muitas destas figuras, precisamente porque são figuras públicas, não têm  tempo para ler e limitam-se a olhar os bonecos, de preferência bonecos onde apareçam elas próprias, a sorrir um daqueles sorrisos que até hà pouco tempo pareciam impossíveis de tão brancos, tão limpos e certinhos.

Como não sou uma figura pública e decido olimpicamente sobre o que aparece e não aparece neste blogue, resolvi fazer uma lista da minha lavra. Entre livros que li recentemente, o que estou a ler agora e os que gostaria de ler a seguir, aqui fica a dita cuja.

De há uns meses a esta parte, desde que li algures um artigo sobre "A Máquina de Fazer Espanhóis" de Valter Hugo Mãe (outrora valter hugo mãe) decidi-me a ler todos os seus romances. Assim fiz, são apenas 5. 4 deles fazem parte da minha lista, o outro nem por isso. Qual deixaria de fora? Compete-te a ti decidir, caro leitor, decide tu...

Entusiasmado com a excelência da escrita do amigo Hugo Mãe procurei manter o foco naqueles que são designados como "novíssimos" romancistas portugueses e virei-me para Gonçalo M. Tavares. Li "Aprender a rezar na era da técnica" e "Uma Viagem à Índia". O primeiro deixou-me de queixo caído, o segundo desorbitou-me.´Li ainda "Matteo perdeu o emprego" mas uma lâmpada de 100 watts tem dificuldade em impor o seu brilho perante uma fogueira de tal intensidade que se aproxima do incêndio.

Pelo meio tive oportunidade de ler o romance "Pais e filhos" de Ivan Turgenev, um exemplar daquela inacreditável onda literária russa do século XIX que nos deixa a pensar que, ali, não havia ninguém que não soubesse escrever na perfeição. Reli, por engano, "A música do acaso" de Paul Auster, livro muito adequado para qualquer ocasião do ano. Como se relê um livro por engano? Prefiro não responder.

Regressei à literatura lusitana através de "Fados e Desgarrados", um alucinante relato do que foi, não foi ou poderia ter sido a cidade de Lisboa nos distantes anos 80. É um romance do meu amigo (José Xavier) Ezequiel que me ofereceu um exemplar com dedicatória e tudo! Logo após, mais uma vez influenciado por um artigo de jornal, procurei Afonso Cruz e li o excelente "Jesus Cristo bebia cerveja". De momento estou em plena leitura de "Breviário das más inclinações" de José Riço Direitinho, outro dos tais novíssimos. Mais uma vez estou a dar o meu tempo por bem empregue.

Tenho na prateleira, à espera, dois romances de João Tordo que, ao que leio por todo o lado, é outro autor prometedor, inteligente e um narrador de primeira água. Estou aqui para ver!

A lista está quase completa. Falta apenas acrescentar "Os detectives selvagens" de Roberto Bolaño que ainda não tenho por perto. Mas esse fica para mais tarde, para depois das férias, que o livro tem aspecto de ser pesado e volumoso, difícil de transportar para a praia, que é o melhor lugar para não ler nada. Vá lá, quando muito sou capaz de ler o jornal.

11 comentários:

rui sousa disse...

Aqui está um tipo de sugestão que eu gosto. Deixa-me dizer que muitos desses livros eu já li e subscrevo inteiramente os teus comentários. No outro dia dei por mim a pensar que deve haver qualquer coisa neste país, um pouco semelhante ao que acontece no Brasil com os jogadores de futebol, que parece fazer com que os escritores, digo, os bons escritores, nasçam ao virar da esquina. Estará isto no nosso ADN? Já não tenho qualquer dúvida que é neste campo, nas literaturas, que nós nos destacamos no mundo, e é aqui que conseguimos ser verdadeiramente brilhantes, como não consigo encontrar em mais nenhuma outra área ( no futebol também não estamos mal ). Já não bastava toda a nossa história da literatura, como se isso não bastasse aparece assim de repente, quase do nada, toda uma geração de um talento enorme. Se calhar é injusto destacar um deles, mas o Afonso Cruz já entrou há muito para a minha galeria dos notáveis. Já li todos os seus livros mas a " Boneca de Kokoska " deixou-me com uma enorme vontade de o amaldiçoar para o resto da vida dele, tal é a inveja que ele desperta em mim. Mais uma vez, aqui estou eu a distanciar-me do grande Mandela :-).

Silvares disse...

Rui, agora estou no Riço Direitinho e depois ataco o João Tordo. É este o plano. Logo após pretendo regressar ao Afonso Cruz. A vantagem é que podemos ler todos os livros deles e, depois, aguardar por novas edições. Pretendo ler tudo destes autores durante o que resta deste ano e no próximo. Se não tudo quase tudo...

:-)

Ler autores portugueses é um dos meus maiores prazeres. E ouvir música portuguesa e ver alguns filmes, enfim, a arte portuguesa está muito bem e recomenda-se.

Anónimo disse...

Desses só li o Roberto Bolaño, "Os detetives Selvagens", e concordo que não é literatura de praia....

Silvares disse...

Eduardo, para mim, literatura de praia é mais coisa de sonhar (a dormir). Na praia tenho dificuldade em concentrar-me na leitura. Talvez dependa da praia e das paisagens que elas ofereçam, não sei bem...

rui sousa disse...

Rui, há muita coisa boa feita por estas bandas, em todas as áreas, mas na minha modesta opinião a literatura desta terra destaca-se completamente em relação às outras artes, eu diria mesmo em relação às outras áreas, aqui do nosso Portugalinho. Tenho pena que o nosso provincianismo e o provincianismo dos outros países ( por razões diferentes ) não coloquem os nossos escritores no patamar internacional que eu acho que deveriam merecer. Não falo só da qualidade, mas sobretudo da originalidade e da maneira como formam a identidade deste país ( ou como o país formou esta identidade literária ). Às vezes dou comigo a pensar que no meio desta forma germânica/ anglo-saxónica de olhar para a vida, quase fundamentalista, que parece excluir qualquer outra abordagem ao mundo, só encontro descanso e paz nos escritores portugueses, até porque eu incluo também aqui os nossos filósofos, que tenho redescoberto ultimamente com um prazer ilimitado, sobretudo o Fernando Pessoa, O Teixeira de Pascoaes e o grande Agostinho da Silva. Sinto neles uma espécie de porto de abrigo contra as investidas ideológico/ culturais, devastadoras, do chamado mundo novo.

rui sousa disse...

O João Tordo é um dos que ainda não li, … mas não perde pela demora.

rui sousa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
the dear Zé disse...

ó rapaz Silvares, chamar novíssimo ao Riço Direitinho com o seu "Breviário" (que é um título irritante e invejavelmente brilhante)que já é de 1994... enfim...

e já agora, sabias que o valter hugo também tem uma banda e canta e tudo? ora vê(jam):

http://www.youtube.com/watch?v=ubqT7tm4ksE&feature=related

Silvares disse...

Rui, a língua que falamos é reflexo de uma visão do mundo muito particular. Há coisas que ditas noutra língua perdem o sentido (e vice-versa).

Zé, a classificação do Riço Direitinho como "novíssimo" não é minha. Fui buscá-la nem sei bem onde. O rapaz é quase da minha idade, 2 anos mais jovem, mas isso não quer dizer nada.
Quanto ao Governo do Valtinho é uma boa surpresa. Costumo ter no meu MP3.

Jorge Pinheiro disse...

Acho alguns excessivamente intelectuais e outros relativamente banais. Mas concordo que é melhor do que ver telenovelas.

Silvares disse...

Jorge, ninguém é perfeito. Dá uma chance aos rapazes (onde estão as raparigas?).