sábado, julho 19, 2025

Ai, solidão!

     A solidão parece ser o pior dos vírus, eventualmente de todos o mais mortal. Depois de instalada não precisa de muito tempo para se impor e prosperar. Alojada nos nossos corações, nos nossos cérebros ou, nos casos mais complicados, alojada nas nossas almas, a solidão faz de conta que não está lá, finge não saber quem somos. E vai ficando, vai crescendo e engordando alimentando-se de qualquer coisa que nos faça falta.

    Há diferentes tipos de solidão, diversas estirpes; umas mais encarniçadas outras menos. Umas assustadoras e repelentes outras quase fofinhas. Seja qual for o aspecto ou o grau de infecciosidade, a solidão não se recomenda nem ao gato da vizinha.

            

sexta-feira, julho 18, 2025

É assim mesmo!

     E é assim mesmo! Olhamos para os outros esperando ver-nos a nós próprios, imaginamos o mundo comparando-o com a nossa casa. Como nada se ajusta ficamos desgostosos e decepcionados. O mundo é uma merda e quanto mais conheço as pessoas mais gosto do meu cão, cenas desse calibre. É pra rir.

    Não é pêra doce aguentar o barco, suportar tanta contrariedade. Para o fazer precisamos de nos equipar com instrumentos adequados: religião, psicanálise, ideologia, arte, tudo serve para tentarmos aguentar a barcaça à tona de água, tudo ajuda a cavalgar as ondas embora o risco de naufrágio esteja sempre ali, logo após a linha do horizonte.

    A vantagem das analogias marítimas é que o horizonte vai sempre à nossa frente, é uma linha que se afasta. Está próximo, está longe?  De cada vez que para ele dirigimos o destino do barco que somos só o vemos a escapulir-se uma e outra vez até se transformar numa linha de costa. E depois atracamos e é assim mesmo.  

quinta-feira, julho 17, 2025

Candidato

     Estava-lhe entalada a vontade na garganta. Queria dizer, falar, expor, narrar a sua história pessoal era um tesouro a merecer partilha pública. Tudo dentro dele estava em alvoroço, a urgência sufocava-o. Suster a torrente discursiva era particularmente doloroso mas a ocasião assim o exigia. Não era momento adequado a dar bandeira.

    Contorceu-se um pouco na cadeira, ardia-lhe o olho do cu.

quarta-feira, julho 16, 2025

Animais de criação

     Há quem se veja a si próprio como eterna e constante vítima do "sistema". Esses encaram tal condição como sendo algo heróico, são mártires da pureza dos ideais que os animam. Se, porventura, os seus ideais vierem um dia a triunfar, os nossos candidatos ao paraíso dos deserdados ficarão órfãos da sua razão de existir. Isso é trágico.

    Há também aqueles que são, de facto, vítimas eternas e constantes do sistema mas esses, não sei bem, talvez não coloquem a questão nestes termos além de todos estarmos conscientes de que nunca, mas mesmo nunca, virão a ter direito à mais insignificante migalha de justiça. 

    Entre uns e outros está muita boa gente. Gente farta de aturar as lamentações dos justos eternamente injustiçados e que sente repulsa pelas verdadeiras vítimas. Gente na qual me incluo. Uns têm mais que fazer do que dar atenção a este tipo de questões, estão demasiado ocupados a trabalhar para poderem consumir. Outros vivem em mundos mais ou menos abstractos, não têm espaço mental para oferecer a este mundo. Outros ainda têm ódio aos primeiros e desprezam os segundos. Etc. É muita boa gente, são muitas condições diferenciadas.

    O que resta disto tudo? Um pouco de amor requentado, bastante ódio, muita estupidez e oceanos de ignorância. É a nossa espécie em todo o seu esplendor, criação divina. 

terça-feira, julho 15, 2025

Viver o momento

     Fazer citações é caminho estreito e repleto de pedregulhos, daqueles que não dão para construir castelos. Ou bem que sabemos do que estamos a falar ou melhor seria manter a boquinha trancada a sete-chaves. Mas as coisas não se passam bem assim.

    No mundo ideal, citar alguém implica recolher e acrescentar dados relacionados com a proveniência da coisa o que implica, pelo menos, um "onde" e um "quem", eventualmente um "quando", o que se aconselha vivamente. É, portanto, tarefa que impõe algum rigor e boa-fé da parte de quem cita.

    No mundo real é a confusão que se sabe. As citações chovem como sapos em narrativa bíblica. As vindas sabe-se lá de onde misturadas com as que se sabe bem de onde vêm, tudo vale a mesma coisa, não há problema de maior. A ideia original pode estar já um bocadinho distorcida, por vezes completamente adulterada mas, pronto, não vamos chatear-nos por isso. O que interessa é passar a mensagem.

    Uma citação errada pode substituir a original e correcta sem grande problema nem esforço. Basta que seja repetida as vezes suficientes para se tornar mais verdadeira que a verdade. Alguém se incomoda com isso? Não vale a pena, desde que a mensagem tenha passado estará tudo bem.

    Quem diz uma citação diz um facto. A confirmação é, muitas vezes, puro aborrecimento. Se a coisa for suficientemente sumarenta podemos ficar pela primeira forma, mesmo que não seja propriamente verdade: desfrutar do momento é o grande objectivo dos seres vivos. Seja ele qual for (o facto, o ser vivo, ambos ou vice-versa). 

segunda-feira, julho 14, 2025

Desistir é estúpido

     Hesitar perante a indefinição de uma obra é algo perfeitamente normal. Ainda não esgotámos todos os recursos técnicos, confiamos na possibilidade de que um ou outro rasgo criativo possa trazer novas orientações durante a realização da coisa mas a tentação de desistir instala-se. Acontece muitas vezes.

    Nessas ocasiões devemos invocar a nossa capacidade de resistir à tentação, insistir na continuação do processo. Há sempre uma fase complicada quando estamos a fazer um desenho ou uma pintura (imagino que possa acontecer com todos os actos criativos), uma fase em que as coisas estão feias, desajeitadas quando, na verdade, estão apenas incompletas. É como na história do Patinho Feio que, afinal, era um cisne. Ganda cena!

    Agora já não desisto quando penso nisso e sou assolado pela tentação de o fazer. A experiência mostrou-me que desistir antes do fim pode privar-me de momentos interessantes. Desistir é estúpido.

domingo, julho 13, 2025

Ser ou não ser (inumano)

     Por vezes penso que a condição de Ser Humano não é automática entre os indivíduos da nossa espécie. Uns serão mais humanos do que outros. E, quando penso nisto, não sou capaz de aceitar a coisa sem lhe resistir. 

    Custa-me a crer que seja como no Triunfo dos Porcos. Mas parece-me inquestionável que há gente genuinamente má e o seu oposto. Parece-me também que os maus estão a ganhar a batalha contra os bons. Espero que seja apenas um desequilíbrio momentâneo.

    Os maus estão a aproveitar muito mais e muito melhor os equipamentos de inteligência artificial a seu favor. Os bons ainda se questionam e debatem com problemas e dilemas éticos. Bondade é fraqueza e lentidão. Os maus são mais decididos e actuam com outra objectividade. Para eles, ser um ciborgue não constitui problema de maior desde que isso os ajude a pulverizar os inimigos. Estamos fodidos.

sábado, julho 12, 2025

Coachar

     Aquelas pessoas cheias a deitar por fora de certezas relacionadas com questões comportamentais enojam-me um bocadinho. Não digo que sejam como cagalhões no meio da sala mas são como respingo de diarreia na lapela de um doutor. Não sei onde vão buscar aqueles números exactos nem como mantêm uma cara de pau à prova de tudo e mais alguma coisa enquanto vão debitando afirmações entre o fofinho e o "ai-ai-ainda-levas-tau-tau", normalmente sem contraditório. São como pequenos deuses ambiciosos, pequenos deuses que em breve irão fundar novos infernos.

    Normalmente ouço esses seres vivos a falar brasileiro (ou português, ou português do Brasil, para mim é tudo exactamente a mesma coisa) com vozes bem colocadas, com dicção perfeita, como se o discurso tivesse sido preparado ao milímetro, construído ao segundo, como se tudo, discurso e discursante, seja fruto de um plano minuciosamente elaborado. Se for um tuga a perorar, a coisa não soa tão bem, soa a falso. Quando é um brasileiro a encher-nos a cabeça de merda está tudo certo: adoramos!

    São os mental coaches, aqueles que irão tapar com amor e compreensão todas as fendas que a tua alma for abrindo. 

sexta-feira, julho 11, 2025

À beira da estupidez

     Chove inesperadamente. O calor mantém-se, tal como os calções, as camisas de mangas cavadas, sandálias e chinelos, a parafernália habitual dos dias em que a canícula nos morde e abocanha do nascer ao pôr-do-sol e mesmo durante a noite. Só que, esta manhã, surgiu uma chuva fresca e miudinha, batida a vento que nos atinge como se Deus fosse um acupunctor nervoso e indeciso, tentando picar-nos o corpo na totalidade, por via das dúvidas. 

    Não sei se por causa da chuva, sinto-me enfastiado. Pensando um bocadinho, por que razão a chuva haveria de me enfastiar? É um pensamento um bocado estúpido. Fico a matutar na coisa.

    Será que tenho pensamentos estúpidos a toda a hora ou, pelo menos, tenho-os com frequência e não me apercebo de tanta estupidez apenas porque não reparo? Se parar para pensar a cada passo descobrirei uma quantidade de pensamentos estúpidos e imbecis muito para lá do que imaginaria aceitável? Ai Jesus!

    O melhor será parar de pensar. Pausa.

quinta-feira, julho 10, 2025

O dia de hoje

     Antecipar um dia em que podemos fazer tudo aquilo que podemos imaginar e podemos ponderar dadas as circunstâncias não é a tarefa mais simples nem é evidente. O meu cérebro desorganiza-se com facilidade; aliás, para se desorganizar seria necessário que o meu cérebro estivesse, de alguma forma, organizado, o que raramente acontece. A pontuação da frase anterior deixou-me a pensar e encheu-me de dúvidas mas parece-me ter chegado a uma conclusão aceitável.

    Já me desviava do que pretendia dizer. Lá está! É a tal tendência para uma desorganização constante e persistente. De que falava eu? Ah, sim, já me lembro (li a primeira frase deste post). Poder fazer aquilo que seja capaz de imaginar...

    Desenhar? Recortar coisinhas e fazer colagens? Ler? Ouvir música durante as tarefas mais criativas? Ir dar uma volta, apanhar ar no trombil? Dormir uma sesta? Ir ao velório? As possibilidades são variadas e eventualmente combinatórias. Posso estabelecer um plano, elaborar uma lista, ordenar, organizar, prever, antever, posso fazer tanta coisa, caraças! Por isso mesmo opto por não fazer nada. Ou melhor, por isso mesmo deixo que seja o dia a decidir por mim. Decerto tomará melhores opções.

    Não me sinto capaz de fazer as coisas "bem feitas". 

quarta-feira, julho 09, 2025

Prévio conceito

     Falava sozinha rua acima, como se mastigasse palavras, como se ruminasse ideias esquecidas. O aspecto de "maluca como o caraças" ninguém lho tirava. Lá vinha ela. Não me pareceu desleixada, quando nos cruzámos não persistiu na atmosfera nenhum fedor particular, era aquela cena, aquela ladainha a martelar, juntamente com os passos sublinhados a salto alto na calçada. Na verdade nada me garantia que se tratasse de uma maluca. Nada, além do meu preconceito.

    O preconceito é uma espinha que não conseguimos desencravar da garganta, é uma pedra no sapato que não descalçamos nem por nada, é um fantasma hediondo a assombrar-nos a mioleira e que não conseguimos espantar nem à força de mil "cabrão" nem dez mil "filho-da-puta". O preconceito é mesmo fodido.

    A última esperança reside na nossa capacidade de percebermos o preconceito que nos infecta. Não nos livramos dele mas saber que nos desorienta, estarmos conscientes de que o trazemos dentro de nós, é coisa que transporta consigo algum alívio. 

terça-feira, julho 08, 2025

Tarefas

     Não poder falar verdade é uma tortura para o espírito. Tentar encontrar formas sinuosas de afirmar coisas simples é trabalho que dispenso, obrigadinho. Se a tarefa não for exclusivamente imaginativa então que seja o mais objectiva possível.

    Assistir ao último suspiro de uma pessoa não é tarefa fácil. É como se um pedaço de nós fosse também embora. E depois há o odor, o estranho odor que a morte desprende ao passar (quanto tempo ficará ela ali, junto ao cadáver?). A flacidez dos tecidos cutâneos aliada ao frio que sentimos nas mãos enquanto tentamos reanimar o corpo ali estendido.

    Agora não tenho vontade de fazer nada. 

segunda-feira, julho 07, 2025

A promessa

     E pronto, bastou falar nisso para que não acontecesse logo no dia seguinte. terei um espírito de contradição tão forte, tão enraizado, que me contradigo a mim próprio? Mais estranho ainda, esse espírito de contradição leva-me a estabelecer compromissos comigo próprio com o intuito inconfessado de apenas os quebrar? Fecho contratos comigo próprio com o único objectivo de os não cumprir? 

    Seja como for, falhei apenas um dia. Ontem não escrevi um post no 100 Cabeças quebrando a meia promessa que fiz anteontem. Não é grave. É apenas motivo de reflexão. Talvez não haja conclusões a tirar. Talvez a coisa se resolva escrevendo um post todos os dias até ao final do mês (risinho desdenhoso).

sábado, julho 05, 2025

Morremo-nos

     Eu sei que não vou ser capaz de escrever um post todos os dias deste mês mas, não sei se reparaste, estou a tentar. Porquê? Por nada, lembrei-me agora dessa possibilidade. Ter assunto não é complicado uma vez que sou muito bem capaz de escrever umas linhas valentes sem dizer absolutamente nada. Pelo menos, sem dizer alguma coisa que tenha algum interesse.

    Hoje soube da morte de mais um homem que foi um grande amigo meu. Nos últimos anos tinha-me cruzado com ele apenas um par de vezes. Abraços, festinhas e, até, troca de beijos. Amigo é amigo, mesmo que não saibamos nada dele, mesmo que estejamos anos sem nos vermos. Ser amigo de alguém é um bocado como ser um cão. 

    Morreu mais esse amigo e eu percebi que "vamos morrendo". Eu ainda estou vivo, muitos de "nós" ainda vivem, mas o número dos que já morreram não pára de aumentar (coisa mais óbvia...) fazendo com que a "nossa" presença neste mundo vá perdendo nitidez de contorno, se desvaneça.

    Sinto uma súbita vontade de sublinhar a minha existência. Mas, isso faz falta a alguém, a minha existência marcada a traço grosso nas paredes deste mundo? Parece-me ser apenas um reflexo da angústia que me provoca a percepção de que o tempo que me resta é muito menos do que o tempo que já vivi.

    Será isto, a percepção da caducidade, o que faz com que os ditadores fiquem bandidos cada vez mais ásperos à medida que envelhecem e percebem que a Eternidade ainda não será por eles alcançada? Será esta necessidade ditada por uma certa inveja em relação às vidas mais jovens? Fico inquieto. Tinha-me por melhor pessoa.

sexta-feira, julho 04, 2025

Nem sei que te diga

     Um tipo acorda de manhã a sonhar com o dia que aí vem e com dias passados, um gajo acorda a sonhar. Um gajo sente-se bem. Imagina-se especial. Acordar, sonhar, sentir, imaginar, suave sequência verbal. Prometedora.

     Promessas feitas por encomenda abstracta dificilmente poderão realizar-se de forma a contentar quem delas nada esperava mas que, ao imaginá-las, acreditou virem a ser possíveis para além daquilo que se atrevera a desejar. Protejam-me dos meus desejos. Protejam-me daquilo que eu quero. Qualquer coisa para traduzir a máxima infinita: Protect me from what I want. Espantosa síntese da condição humana estabelecida por Jenny Holzer.

     Jenny, reconheço a magnificência do que afirmaste mas não sei se te agradeça.

quinta-feira, julho 03, 2025

Somos todos irmãos

     Somos todos irmãos. Esta conversa é norma entre os católicos. Quando nos dizem que somos todos irmãos pretendem sugerir a possibilidade de sermos todos amigos uns dos outros? Basta ler uma mão-cheia de páginas do Antigo Testamento para darmos de caras com a história miserável de Caim e Abel. E não precisamos de nos esforçar por aí além para encontrarmos situações em que irmãos mentem uns aos outros, situações em que se agridem, se abandonam, se ignoram, se roubam, todo o catálogo de tramóia e vigarice aberto e exposto aos nossos olhos.

    Somos todos irmãos. Conversa vazia e carente de significado. Veja-se Gaza, olhe-se para Israel, pense-se no liberalismo económico ou na exploração de recursos naturais. Somos todos irmãos mas uns de nós são mais irmãos que os outros? Deve ser isso. A coisa, vista assim, começa a fazer algum sentido.

    "Somos todos irmãos" é uma frase feita que se completa com outra que também não precisamos de inventar: "uns são filhos e outros são enteados". Está quase tudo dito. 

quarta-feira, julho 02, 2025

O mundo nunca foi o que era

     Acontece de cada vez que dou por terminado um desenho. É uma sucessão de ideias e sentimentos que desfila perante mim, como um comboio a partir do cais de embarque, a dirigir-se lentamente para fora da estação. Não sei se lhe acene se corra atrás dele na tentativa de saltar lá para dentro.

    Já o disse e repeti várias vezes em alguns dos dois mil seiscentos e tal posts deste blogue: um desenho, uma pintura, uma obra de arte, nunca estão verdadeiramente concluídos, são deixados em estado de suspensão pelo autor no momento em que este considera ter-se empenhado suficientemente no trabalho de dar forma ao objecto.

    Sei que isto é verdade inquestionável mas sei também que custa um bocadinho deixar a coisa entregue a si própria e a quem a possa ver a partir daqui, a partir do tempo em que passa a ser objecto de exposição e não objecto de criação.

    Tenho tantos desenhos que nunca foram vistos por ninguém, além de mim. Tantos desenhos (centenas, pelo menos) que têm um tempo de exposição exclusivamente virtual, vistos apenas através de ecrãs. E depois?

    Ainda esta manhã estive a pensar sobre a razão que me leva a desenhar e qual a utilidade dos desenhos que vou fazendo. Não obtive nem sombra de resposta. Entretanto concluí um desenho a que dei o título de Floresta Desencantada (o mundo nunca foi o que era).

terça-feira, julho 01, 2025

O monstro regressa

     Assistimos incrédulos ao ressuscitar do fundamentalismo cristão. É de sublinhar o papel arrasador desempenhado pelo cristianismo na destruição da sabedoria e do conhecimento logo que foi alcandorado aos lugares de governação no antigo Império Romano. 

    A História costuma sublinhar o papel dos mártires cristãos e obliterar em absoluto todos os que foram  martirizados em nome do Livro único e do cristianismo. Ainda hoje sentimos um tremor beatífico nos meios de comunicação ocidentais quando, lá para os orientes, uma igreja cristã é alvo de violência mas sobre a perseguição a filósofos e destruição de bibliotecas no passado longínquo e os ataques e ameaças a bibliotecas públicas na actualidade... népias ou quase nada.

    O cristianismo, na sua génese, foi uma onda de obscurantismo fundamentalista que varreu a Europa, o Próximo Oriente e o Norte de África, levando na enxurrada séculos de Saber e Conhecimento. Tudo em nome de Deus, da Salvação e da verdadeira Fé.

    O monstro pretende renascer, já começamos a ver-lhe um dedinho de fora.