O aspirador fazendo o seu trabalho substitui o som áspero que ouvias no Spotify; Jack White e a sua guitarra tão eléctrica. Procuras as ideias que se escondem de cada vez que voltas a cabeça da alma. São esquivas, as filhas-da-puta. Já se te mostraram claramente, à luz do que quer que seja que te ilumina o interior, lá, onde a tua vida paralela se desenrola dia após dia. Contas de outro rosário.
Lá dentro costuma estar tudo silencioso. Não há aspiradores nem automóveis nem aviões a grunhir ao longe nas alturas. Lá dentro só tu és próximo de qualquer coisa que possas relacionar directamente com a realidade. Tudo o mais são ideias, sensações, coisas ainda não nomeadas. Assim, como aquelas ideias que ainda agora sentiste a deslizar lá ao fundo, sob o que poderia corresponder à entrada de uma gruta, à soleira de uma porta, lugar sombrio capaz de esconder tudo o que possa e o que não possa ser escondido. Ali a sombra é como tinta da China.
O aspirador continua a trabalhar e tu desistes. Melhor, tu adias a busca das ideias furtivas, pequenos diabretes malvados. A ocasião há-de oferecer-se e tu vais deitar-lhes a mão. Tão certinho como seres quem és!
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