terça-feira, dezembro 08, 2015

Sonho de uma manhã de Inverno

Por vezes penso: "sonham as coisas mortas?"; se algumas das vivas sonham com a morte, será que as mortas sonham com a vida? Uma pedra que gostasse de ser corvo ou um um grão de areia que desejasse tanto vir a ser presidente da república que havia de se transformar em montanha.

Lembro-me bem de ficar a olhar muito, muito tempo, a fitar calhaus que pareciam outras coisas, coisas escondidas dentro da rigidez da pedra, mas que nunca se revelavam completamente. Se eram coisas mais verdadeiras que a minha imaginação, então eram mais espertas que os meus olhos e guardavam-se, quietas, lá no fundo daquilo que realmente eram. Nunca as cheguei a ver, só as imaginei.

Nos dias que correm encontro, de vez em quando, seres fantásticos, saídos nem sei bem de onde. Aparecem assim, vindos do nada; são visitas que não gostam de chá nem têm tempo para se sentarem à conversa. Serão estes seres desconcertantes aqueles que se escondiam no dorso e no fundo dos calhaus da minha infância? Seres que voavam nas alturas dos pinheiros com o sol a doirar-lhes as formas indistintas?

O que interessa isso? Que interesse pode ter quem eles são? Gosto de pensar que são os sonhos das coisa mortas que ganharam vida. E gosto de pensar que sou eu quem lhes dá essa vida que ganharam, eu, pequeno deus, feito homem na minha imaginação.

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