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Se o Urinol de Duchamp cria resistências nas almas mais comuns que dizer da obra da Manzoni intituada Merda de Artista? Este caramelo terá embalado a sua própria caca em latinhas como a da imagem ao lado que depois colocou no mercado ao preço da grama de ouro.
A questão reside em aceitarmos ou não a natureza artistica desta merda.
Será necessário, antes do mais, decidir os limites da obra de arte. Desde Duchamp, pelo menos, que essa tarefa se tem revelado, no mínimo, complexa.
Com os ready made o consumo de arte deixou de ser cómodo. Anteriormente o amador sabia perfeitamente o aspecto e os limites permitidos á criação artística. Um quadro, um fresco luminoso, uma estátua no centro da praça recordando feitos heróicos ou o passado histórico. Nada mais fácil! Mas agora... latinhas de merda!?
Os exemplos são mais que muitos. O espectador é frequentemente confrontado com os seus próprios limites perante os mais variados objectos. Cabe-lhe participar, completando a obra de arte.
Convenhamos que pode revelar-se um trabalho de merda para o qual podemos não estar disponíveis, o que é perfeitamente normal.
Consta que Manzoni terá vendido todo o stock de merda embalada pelo preço pedido. Não há notícia (que eu saiba) de que alguém tenha ousado confirmar o conteúdo das latinhas já que isso iria arruinar o seu valor e quebrar-lhe o encanto.
Dá que pensar, não dá?
Então deve ser arte!