sexta-feira, novembro 27, 2015

Dúvida

Há pessoas que nunca conseguem deixar de ser tristes. Outras são más, todos os dias das suas vidas. Outras são tão boazinhas que acabam com um rótulo de "santo" colado na testa. A maioria é mistura destas três com outras tantas que atrás não mencionei.

Somos o que somos, o que fazemos de nós, o que outros de nós fazem. Andamos uma vida inteira embrulhados nos dias que vivemos, a tentar encontrar um motivo para que o tempo a rodar não nos deixe tontos nem imbecis nem demasiado qualquer coisa que não nos está a passar pela cabeça.

Há espaço para todos... quero dizer, para quase todos, porque, para assassinos não encontro razão suficiente que possa justificar o ar que respiram.

Que fazer com um assassino? Esta dúvida haverá de roer a minha humanidade durante todos os dias que levar a arrastar as botas pelas costas deste mundo.




domingo, novembro 22, 2015

Relevância individual

Parece-me que a aspiração máxima da maioria das pessoas é sentirem-se relevantes. Não precisam de sentir-se muito relevantes, um bocadinho relevantes já é bom. Algo próximo dos célebres "5 minutos de fama" que Warhol sonhava ser o futuro de cada um de nós, numa sociedade hipermediatizada.

A senhora que fala da vida da vizinha do rés-do-chão apenas quer sentir-se relevante no dia da vizinha do 2º andar, que a escuta muito interessada na história. Tão interessada se mostra a senhora do 2º andar que a outra se sente impelida a juntar uns pozinhos de imaginação delirante e a pobre vizinha do rés-do-chão ganha contornos de monstro estranho. Mais tarde haverá espaço para algum remorso mas isso... só mais tarde.

O líder que ganha o respeito do seus seguidores por ter mostrado músculo e vontade de agir sente que, de súbito, a sua relevância cresceu de modo extraordinário. Agora não há como voltar atrás sem perder relevância. Assim, enebriado pelo amor que sente desprender-se dos que o admiram, o líder avança cada vez mais depressa em direcção ao que poderá vir a ser um desastre. E depois? O seu desejo de ganhar mais e mais relevância aos olhos dos que esperam dele o mundo, a lua e mais qualquer coisa... essa coisa que deitará tudo a perder, faz com que ele lidere com maior empenho ainda.

Os exemplos iriam por aí abaixo mas bastam a coscuvilheira e o líder carismático para justificarem este meu pensamento matinal: a maioria das pessoas só pretende sentir-se um pouco relevante. Não precisa de sentir-se muito relevante, um pouco basta.

quarta-feira, novembro 18, 2015

Coisas que batem

Hoje apetecia-me ter opinião sobre qualquer coisa assim, qualquer coisa que normalmente não me ocupe muito o espírito. Queria saber dizer coisas inteligentes sobre o pão alentejano ou reflectir com critério sobre as poças de água depois da chuva cair.

Gostava de poder limpar a porcaria que me vem à cabeça como uma enxurrada a empurrar, de forma imparável, incontrolável, a empurrar o meu cérebro para o mar; um mar terrível, mar morto e repleto de cadáveres de seres que devia albergar mas não consegue evitar matar.

Hoje não rejeitaria a possibilidade de discutir futebol com alguém que não seja capaz de pensar para lá da biqueira das botas. Se a oportunidade se me oferecer vou agradecer essa graça a Deus, Nosso Senhor. Beber uma cerveja fresca e falar de futebol com pessoas menos inteligentes do que eu, é uma aspiração, um projecto de vida como outro qualquer.

Gostava de poder evitar ser assaltado por imagens e ideias que me querem roubar o sossego e deixar-me mais pobre de felicidade. Hoje sinto-me avaro de felicidade. Não quero oferecê-la, não quero perdê-la, hoje quero guardá-la para mim. Quero sentir-me feliz mas... lá está a tal imagem, a tal ideia, o tal facto, a bater, a bater, a bater na porta do meu coração, a bater na porta do meu cérebro, a bater na minha vontade, a bater, a bater, a bater.