sábado, abril 27, 2013

Brasil-Portugal-Brasil

Uma canção linda que mudou com o correr do tempo. E pensar que fomos todos tão jovens! :-)

quarta-feira, abril 24, 2013

39 anos

Passam amanhã 39 anos sobre a Revolução de 25 de Abril. Todos os anos este dia é recordado com saudade, por uns, com desprezo, por outros e mais uns quantos sentimentos e sensações desencontradas.

O povo vai saindo à rua com fulgor decrescente. Dos que fizeram a Revolução muitos já morreram, outros quantos estão cansados, restam muito poucos entusiastas. É um dia bom para vender cravos vermelhos embora já tenha sido melhor para esse negócio.

Logo mais à noite cumpre-se a tradição almadense (Almada ainda é uma cidade vermelha!) e a Praça de São João Baptista vai confundir-se com a Praça da Liberdade numa festa com discursos e espectáculos musicais (este ano serão Boss AC e Sérgio Godinho a fazer as honras) rematada pelo tradicional fogo-de-artifício.

O povo vai beber umas cervejolas, cantar a Grândola Vila Morena, muitos erguerão punhos cerrados e gritarão palavras de ordem de pendor revolucionário... 39 anos.

39 anos, em tempo histórico, são quase nada e, no entanto, estes 39 anos são uma parte considerável das nossas vidas, são quase toda a nossa vida.

Logo mais à noite estarei lá, no meio da multidão. Uma coisa sei que vou dizer, isso é quase certo: VIVA! Vou eu dizer, quando alguém gritar ao microfone: VIVA O 25 DE ABRIL! Sempre.

sexta-feira, abril 19, 2013

Natureza enlouquecida

A Primavera não chegou a chegar, ultrapassada que foi pelo Verão nas voltas da metereologia.

O calor veio todo de uma vez e há uma confusão de indumentárias entre as pessoas que se cruzam na rua. Casacos e camisas de manga curta, calções e calças compridas, mini-saias e leggings justas,pretas, quentes, chinelos pisam o mesmo chão que botas da tropa.

A mulher escondia-se do sol encostada a uma árvore. Dois sacos de plástico repousavam a seu lado na sombra. Vestia um casaco de peles, como um animal da montanha gelada desajustado na savana africana. O cabelo, escorrido e oleoso, moldava-lhe um crânio pequenino. Dentes protuberantes faziam dela uma coisa próxima da imagem de um rato.

As estações do ano comprimiram-se. Há Verão e há Inverno. A mulher debaixo da árvore fez-me pensar que a natureza ainda não conseguiu compreender muito bem como deve comportar-se, que anda meio enlouquecida.

segunda-feira, abril 15, 2013

Gritaria


O que fazer quando os nossos maiores esforços são olhados com a indiferença que costumamos dispensar às coisas que não são coisa nenhuma? Quando o produto do nosso trabalho parece não valer nada talvez seja aconselhável abrandar, abrandar, abrandar... estar quase, quase a desistir, quase a parar, a desligar, a ficar quieto. Apagar-se.

Se há coisa que me irrita é perceber que os meus trabalhos são coisas penduradas na parede ou apoiadas num suporte qualquer que podem ser olhados como se de posters publicitários se tratassem. A indiferença é filha da preguiça após acasalamento com uma besta qualquer.

As pessoas passam, conversando com o parceiro do lado, distraidamente. É o ambiente da vernissage, muito chill, muito leve, coisa de fim-de-tarde. Quem te manda a ti participar nestas cenas macacas? Já não sabes como é? As pessoas estão aqui pelo social, a arte é um pretexto acessório.

Os leigos passam pelas obras expostas como cão por vinha vindimada, os experts não se impressionam com nada; a arte, para eles, não tem o mais pequeno dos segredos. Os experts são todos curadores ou para lá caminham, esses artistas na arte de expor o trabalho dos outros.

É por isso que enfiar-lhes um murro nos cornos (um horror pelos olhos dentro) ou dar-lhes um grito por baixo das pernas que lhes desoriente os ouvidos (uma forma banal com um título imbecil) seja sempre o que me apetece fazer.

Um dia hei-de fazer uma exposição que seja uma gritaria.

domingo, abril 14, 2013

Igualdade e tubarões

Começam a fazer-se ouvir por aí algumas vozes que nos pretendem alertar para o suposto facto de que a "igualdade" entre os cidadãos é uma utopia absoluta.

Bem vistas as coisas, apesar de todas as transformações no sentido de promover uma aproximação entre as diferentes classes sociais no que diz respeito ao acesso a bens de primeira necessidade (saúde, educação, justiça, habitação) a verdade é que as distâncias se mantêm e, em muitos casos, parecem mesmo ter aumentado.

A luta pela justiça social é um caso perdido? Será a desigualdade um fado da espécie humana? Diz o ditado que "peixes grandes comem peixes pequenos" e este mundo está pejado de tubarões com dentes afiados e barrigas com demasiado espaço.

sexta-feira, abril 12, 2013

Pensamento pós-almoço (bem regado a vinho tinto)

Todo o objecto, seja qual for a sua natureza, pode ser observado sob duas perspectivas: a forma e o conteúdo; o visível e o invisível; o óbvio e a construção de um pensamento crítico.

Quando esta miríade de conceitos dicotómicos tendencialmente maniqueístas, quando esta pequena fumarada de ideias se confunde numa nuvem que, uma vez arrefecida, gera um bloco concreto, uma imagem mais ou menos poderosa, estamos perante um objecto estético.

Um objecto estético é todo aquele capaz de nos fazer compreender a necessidade que temos de inventar divindades que nos salvem de nós próprios.

quarta-feira, abril 10, 2013

Fábula da criação

Estimular a criatividade, missão complexa. Fazer um céptico acreditar nas suas próprias capacidades criativas, missão (pelo menos aparentemente) impossível. Estimular a criatividade coloca-nos perante uma situação semelhante à de tentar ressuscitar um cadáver.

Estimular a nossa criatividade, missão complexa. Ultrapassar o nosso cepticismo em relação à nossa própria capacidade criativa... isso nunca! Uma vez morta, a criatividade dificilmente ressuscita.

O que acontece muitas vezes é que a criatividade vai de férias. À medida que o tempo passa e nós envelhecemos, a criatividade parece tirar férias cada vez mais extensas. Deixa de viajar com mochila às costas e passa a frequentar resorts de luxo.

Nós a precisarmos que a criatividade regresse a casa (que regresse para nós) e ela a esticar-se mais, a espreguiçar-se pela manhã sob o sol ameno de um qualquer local imaginário. Se deixamos a imaginação ir de férias com alguma periodicidade, vai ser cada vez mais complicado convencê-la a regressar.

Moral da história: mais vale ir de férias (mesmo que prolongadas) do que morrer (ainda que de forma temporária).

quarta-feira, abril 03, 2013

Tabelas, escalas e outras patranhas

Acabo de tentar explicar a um grupo de alunos a ideia de que os objectos não possuem um valor próprio. Uma mala não vale, "na realidade" 25 euros, é um valor que lhe é atribuído. A partir daí poderemos estabelecer uma escala de valores diferentes para diferentes tipos de malas, mas isso não faz com o preço seja uma qualidade do objecto.

Esta complexa teia de reflexões surgiu, como sempre acontece, a propósito do valor de mercado das obras da arte. Quem os estabelece, quais os critérios, porque-é-que-o-Picasso-faz-aquelas-coisas-e-valem-tanto-dinheiro-e-eu... e tu, nada, porque tu não és ninguém embora saibas que isso é mentira.

Após quatro horas nisto, com dois grupos diferentes de adolescentes, estou mais cansado do que se tivesse feito o Santuário de Fátima de gatas e a lamber o chão. Tenho a boca seca e sinto alguma frustração.

Com o 1º grupo penso que fui capaz de estabelecer um clima de debate interessante e teremos chegado a algumas conclusões bastante razoáveis. Já com o 2º a coisa não terá resultado tão bem. Tentei repetir a aula que, na minha óptica, tão bons resultados me havia proporcionado, esquecendo uma verdade verdadeira de tão indesmentível: uma aula é um acto de criatividade. Repetir fórmulas está longe de ser garantia de sucesso.

Cansei-me mais e consegui menos. Ou, pelo menos, é essa a minha impressão. E se, na verdade da realidade, a 2ª aula até foi mais eficaz do que a 1ª? Quem estabelece o valor de uma aula? Qual a escala a partir da qual podemos comparar resultados? Como posso eu tirar conclusões? Fazendo um teste? Estou em crer que, nesta situação, não chegaria a grandes conclusões com um teste. Para poder compreender o alcance das reflexões que fizemos será necessário viver a vida, deixar o tempo correr.

É para viver a vida que serve a educação artística. Na próxima aula vamos recortar, colar e desenhar, o resto... o resto é conversa.