sexta-feira, setembro 30, 2011

Uma coisa nova


Já tinhamos o Capitalismo Selvagem, coisa mais ou menos usada e meio escondida que vimos a conhecer melhor nos últimos tempos. Agora começamos a perceber que, na China, há mesmo uma coisa nova, uma coisa que poderíamos chamar de Capitalismo Comunista.

Se os sinais enviados desde Pequim nos anos mais recentes não fossem o suficiente para podermos acreditar que, de facto, por lá se anda a construir essa espécie de Frankenstein político-social, a notícia recente de que um tal de Liang Wengen (ler aqui) se está a chegar ao Comité Central do Partido Comunista Chinês é elucidativa.

O senhor Wengen representa "as mais avançadas forças produtivas", eufemismo chinês para designar uma sanguessuga capitalista, um empresário cujo único objectivo é o lucro, personagens que, durante a Revolução Cultural eram considerados pouco mais do que demónios (talvez até fossem considerados menos), mas que agora surgem como uma espécie de nova vanguarda, admirável e, sobretudo, vanguarda exemplar.

O que se pode esperar de um sistema como este? O Capitalismo Selvagem já nós conhecemos e sabemos (mais ou menos) do que ele é capaz para satisfazer o seu apetite impossível de satisfazer. E deste novo primo, um nadinha mais jovem, que agora vê despontar os primeiros pêlos púbicos, lá para os lados do Oriente, o que poderemos nós esperar?

Seja lá o que for, será, decerto, bom e bonito. Como é costume.

segunda-feira, setembro 26, 2011

A árvore

É um dos mistérios da minha existência humana. A árvore, tal como é vulgarmente representada; tronco castanho, copa verde, et voilá!

Se propusermos a uma criancinha que pinte a árvore com outras cores ela vai lançar-nos um olhar entre o incrédulo e o furioso, que é lá isso!!!??? Uma árvore é castanha e verde, ponto final. Há coisas que não se discutem e o aspecto de uma árvore faz parte dessas coisas eternas e universais, por muito que a inteligência ou um simples olhar nos digam o contrário.

Não sei bem de onde vem esta ideia estereotipada e tão fortemente enraizada no imaginário colectivo mas que lá está, disso não podemos ter a mínima dúvida. Nem o Outono nos salva do senso comum que começa, estou em crer, nas mentes das nossas professoras primárias que nos dizem que é assim e nós acreditamos, mesmo depois de entrados na idade que designamos por "adulta".

Quem diz a árvore, diz muitas outras coisas. Demasiadas coisas. Coisas que nos entram na imaginação e por lá ficam sentadas, deitadas, a ressonar, preguiçosas, adquiridas, coisas que nunca mais questionamos e que acabam por solidificar erradamente. Quase monstros.

Coisas que cristalizam e nunca mais se alteram dentro de nós apesar de  um simples olhar lá para fora, para fora da caverna dos nossos crânios, ser o bastante para nos mostrar a evidência de que as coisas raramente são o que parecem, quanto mais aquilo que nós imaginamos sem sequer as questionarmos.

domingo, setembro 25, 2011

Já podemos arrumar os capacetes

Pronto, "o satélite não comandado UARS da Agência Espacial Norte Americana afundou-se neste sábado algures no oceano Pacífico, entre as 4h23 e as 6h09 (hora de Lisboa), disse a NASA." (ver informação interessante aqui) Podemos arrumar os capacetes e voltar a sair à rua sem andarmos com o nariz apontado às nuvens, tentando descortinar algum parafuso que venha do espaço exterior em direcção às nossas cabeças.

A questão do lixo espacial deveria preocupar-nos um pouco mais mas a verdade é que também cá por baixo a lixaria não nos deixa sossegados. Uma economia global pujante e capaz de crescer todos os anos tem os seus custos. O crescimeto dos detritos que vão forrando o nosso planeta é directamente proporcional aos lucros económicos com que gostamos de enfeitar os discursos sobre o bem-estar das populações.

Resumindo e concluindo, o nosso bem-estar (leia-se: os nossos níveis de consumo) exige a produção de tanto lixo que, em breve, será impossível disfarçar a porcaria continuando a varrê-la para debaixo do tapete. Ou seja, o nosso bem-estar actual será a causa principal do nosso mal-estar futuro. Paradoxal, não?

quinta-feira, setembro 22, 2011

Mémé

Nunca te apeteceu pegar num martelo e perguntar " quem é quem?" a este mundo de merda?
Se nunca sentiste esse impulso peço perdão por te informar que: ou és um "deles" ou então mereces ser tosquiado na próxima estação, quando vierem por aí abaixo os gajos que nos rapam o pêlo, nos afinfam um carimbo no lombo e gritam por cima do ombro: "venha outro!".

Se aquilo que atrás ficou escrito fez saltar alguma pequena peça do teu corpo, não hesites mais; pega no martelo, aperta-o bem, até que faça parte do teu braço, olha o mundo nos olhos e faz a pergunta, como se fosses a rainha má da Branca da Neve: "quem é quem?". O mundo deve-te respeito. Exige-o, não sejas carneiro ou ovelha mansa. Transforma o teu balido num som que se ouça de outro modo.

segunda-feira, setembro 19, 2011

Lixo do céu

Toda a gente sabe que os valorosos gauleses apenas temiam uma coisa: que o céu lhes caísse em cima da cabeça! Esta era uma das piadas que Goscinny inventou para nos divertir com a ingenuidade de Astérix, Obélix e demais companheiros e nós sorríamos; como era enternecedora esta ideia escanifobética, o céu a cair em cima da cabeça de quem quer que fosse? Não me lixem.

Mas a verdade é que o mundo contemporâneo, supertecnológico, superdesenvolvido, super tudo e mais alguma coisa, transformou o temor dos gauleses em algo a ser levado a sério. A notícia de que um satélite vai cair na Terra entre quinta-feira e sábado em local desconhecido (ler aqui) é algo que já não surpreende ninguém. A queda de pedaços de lixo espacial que mais ou menos se desintegram quando entram na atmosfera do nosso planeta é coisa corriqueira.

Diz a notícia que "a probabilidade de alguém ser atingido e morrer devido à queda do UARS (é este o nome do bicho que vem por aí abaixo) é de um em 3200, menor que 0,05 por cento". OK, a probabilidade é baixa mas... existe, é um facto.

Talvez fosse disto que Astérix tinha medo ou talvez fosse de outra coisa. Alguma coisa menos racional mas igualmente perigosa e improvável. Os deuses são o que são e o lixo espacial também.

sábado, setembro 17, 2011

Não pensar

Todo o cidadão tem o direito de não pensar sempre que isso lhe parecer a melhor forma de ocupar o tempo. Pensar sempre, a toda a hora, sem intervalos para vegetar livremente, não é bom para a saúde.

Não ler, não ver cinema, não ir ao teatro, não desenhar, não pintar, em suma, não fazer rigorosamente nada, é uma medida preventiva a aplicar sempre que a cabeça começa a inchar.

Essa inactividade pode ser agradavelmente preenchida por uma tarde a olhar para a televisão vendo jogos de futebol do campeonato argentino entre equipas das quais nem sabemos o nome, de preferência um daqueles jogos que terminam com um zero a zero preguiçoso no placard.

Ou então vendo um filme com o Jean Claude van Damme a desancar tudo quanto lhe passa à distância de um braço. Assistir a um debate sobre a vida sexual na terceira idade também é uma opção interessante mas mais difícil de encontrar.

Todo o cidadão tem direito a uma boa dose de estupidez desde que não se habitue. A inteligência também precisa de períodos de descanso.

domingo, setembro 11, 2011

Mudar de assunto

Hoje é dia 11 de Setembro. É aquele dia, vocês sabem. Todos os meios de comunicação social trazem toneladas de informação sobre os ataques terroristas de há dez anos. Como foi, como seria se não tivesse sido, como é, como será, é impressionante a nossa capacidade para gerar informação, multiplicar os factos, impressiona a nossa capacidade de construir esta extraordinária torre de Babel com uma data inscrita na base.

Ontem fui ao Teatro Nacional Dona Maria II assistir à peça "Amadeus" e é sobre isso que me apetece escrever hoje. Não tenho muita coisa a dizer. Apenas quero sublinhar a excelência desta produção e afirmar que Diogo Infante interpreta um Salieri estratosférico. O elenco tem, de uma forma geral, um desempenho sólido e eficaz, mas o director do teatro mostra que atingiu um patamar muito elevado.

A não perder.

sexta-feira, setembro 09, 2011

Conversa

Não resta a mais pequena dúvida, o grande problema com que um ser humano se debate é o da comunicação. Encostado ao balcão da tasca, bebendo uma imperial enquanto passo os olhos pelas letras gordas do Record, ouço distraidamente uma troca de palavras entre a senhora que está do lado de lá e uma outra, cliente, como eu, que quase se deita sobre o dito balcão.

É uma conversa indolente, num nível de linguagem bastante pobre. Não percebo bem o assunto nem isso me interessa particularmente. Falam sobre questões do quotidiano, coisas vagamente dolorosas que parecem ocupar-lhes o espírito com alguma urgência. Não me parece que procurem respostas ou que, sequer, reflictam sobre nada em especial. Limitam-se a falar, preenchendo uma necessidade urgente.

A conversa terminou sem aparente conclusão. Suspendeu-se de súbito. Olhei de soslaio as duas senhoras. Pareciam aliviadas. Despediram-se: até amanhã se Deus quiser; e pronto. As coisas ficaram assim mesmo, resolvidas ou por resolver, isso não pareceu ter importância.

Há quem pague a um psicólogo, há quem escreva em blogues, há quem escreva livros com centenas de páginas, há quem se dedique à política, todos querem comunicar e ter alguém que os ouça. Pelo menos isso. Sobretudo isso.

quarta-feira, setembro 07, 2011

Comer ou não comer, eis a questão!

Este é um tema melindroso. Sim, porque falar em gordura, falar de pessoas gordas como elefantes marinhos, pessoas que comem descontroladamente tudo aquilo que lhes passa a menos de cinco centímetros das beiças pode deixar ofendidos esses candidatos a mastodonte. Não é correcto.

Já aqueles que (como eu) não resistem à tentação de fumar uma cigarrada (vou já acender mais um cigarro que estou a ficar nervoso) podem ser enxovalhados à vontade. Somos uns fracos, uns miseráveis, uns bandalhos capazes de pôr em risco a própria saúde e a daqueles que nos rodeiam e que, pelos vistos, não amamos tanto quanto imaginamos.

Assim sendo é justo que o imposto sobre o tabaco vá subindo como um alpinista em direcção ao cume do Everest. É castigo merecido para os que (como eu) pintam em tons de alcatrão os pulmões que Deus lhes (nos) deu o que, ainda por cima, deve ser pecado. Mas, isso eu sei, a gula é pecado mortal e o vício do tabaco não consta da lista. Eheheheh.

A ideia de taxar extraordináriamente também os produtos alimentares que contribuam para a degradação da saúde dos consumidores (ver aqui) entra na mesma linha de raciocínio lógico daquela ideia que faz com que o imposto sobre o tabaco aumente a olhos vistos. Ou não?

Na verdade, cá no fundo, estou-me bem a lixar para esta discussão. Ninguém come estúpidamente ou fuma desalmadamente por falta de informação. Uma coisa será tão estúpida e desalmada quanto a outra. A questão dos impostos tem outra origem: a necessidade de inventar receitas extra para os cofres do estado.

Depois deste cigarrinho talvez vá ali acima ao McDonald's (há tantos!!!) e coma um hamburguer daqueles que engordam mas deixam a alma mais sossegada. É uma questão de opção.

segunda-feira, setembro 05, 2011

Aprender a ir no comboio do romance

Ontem acabei de ler este "Aprender a rezar na Era da Técnica" de Gonçalo M. Tavares. Li-o com agrado e estranheza. Não é o 1º livro que leio deste autor mas, até agora, foi aquele que me deu vontade de escrever qualquer coisa sobre o que acabei de ler.

O facto de ser uma narrativa muito fragmentada e reflexiva a um nível quase incomodativo, transforma a leitura num constante exercício de aprendizagem. Aprendi a ler, aprendi a pensar com a ajuda daquilo que estava a ler, aprendi a ver, aprendi a fazer um grande número de coisas que já tinha aprendido anteriormente mas que agora aprendi outra vez. Só que de outra forma.

Aprendi isto "daquela" forma que é necessário aprender para poder entrar nos carris que orientam o comboio da narrativa deste romance. Sem pagar bilhete. Vai-se porque se quer ir. Com alguma sorte chega-se no preciso momento em que a personagem central abandona o palco.

Como digo, aprendi muita coisa mas não aprendi a rezar.

Dúvidas


Será necessário voltar a encarar a educação dos nossos jovens como sendo parte de uma doutrinação social?

Não teremos deixado uma margem demasiado folgada nos prgramas escolares e, principalmente, na vertente das atitudes e valores, no capítulo dos comportamentos e objectivos globais do papel da escola na vida da comunidade?

A ideia instalada de que o moralismo é errado e que não há necessidade de ensinar a "ser", que somos todos "bons selvagens" num mundo doentiamente consumista não nos terá conduzido a um estado de enfermidade social difícil de ultrapassar?

O que poderemos fazer no sentido de recuperar o Humanismo enquanto motor da coisa pública?

A quem interessa encontrar respostas para estas dúvidas?

domingo, setembro 04, 2011

O peso certo


Como todos os obesos o estado tem o direito de desejar perder peso. Se tem gorduras a mais é justo que faça os possíveis para as dispensar. Já o desejo de fazer os impossíveis me parece algo exagerado, até eventualmente perigoso. Haverá  um peso certo, um equilíbrio desejável. Olhando para os esforços que este governo vai desenvolvendo fico um pouco confuso. Há por ali uma desordem, uma ânsia, uma angústia meio marada. 

Será que o estado pretende livrar-se de tudo o que não lhe (nos) interessa ou, ai Jesus!, está a cumprir um plano mais ambicioso e menos confessável? Privatizar serviços de interesse público não parece medida muito católica. Entregar nas mãos dos mercados, sempre tão nervosos, voláteis e volúveis, sectores como, por exemplo, o das águas não augura nada de bom. Mas será que o ensino ou a saúde irão resistir por muito tempo ao apetite dos tais mercados que, desta forma, estão a ficar, eles sim, obesos e gordos como porcos bons para fazer presunto? 

Há, no entanto, sectores que parecem sagrados e intocáveis. A justiça e a segurança pública não correm riscos de privatização. É como se os governantes estivessem orientados no sentido da criação de um estado cuja preocupação exclusiva é a manutenção de um ambiente suficientemente seguro e estável para que se possam desenvolver um certo número de negócios rentáveis em benefício de uma elite económica que, ela sim, é gorda e governa o mundo em que vivemos.

Será que o peso certo dos estados pós-democráticos em que habitamos é resumir os seus gastos na administração de uma espécie de justiça caricatural, garantindo a ordem pública através do investimento em forças militares e policiais que mantenham os cidadãos nos seus cantos específicos sem gerarem ondas de perturbação que possam por em causa a saúde psíquica dos tais mercados?

Estaremos nós a assistir ao nascimento de uma nova ordem social onde, em nome do bem-estar dos mercados de capitais, os cidadãos vêem esvaziados os direitos sociais que tanto suor lhes custou a adquirir? A Europa vai desaparecendo na paisagem e nós assistimos passivamente, com a canga a pesar-nos no costado.

sábado, setembro 03, 2011

Coisas que flutuam


O país afunda-se juntamente com a Europa. Uma ou outra coisa vai-se mantendo à tona, flutuando, mas a sensação geral é de afundamento.

No museu do Louvre está a tela monumental de Gericault, A Jangada do Medusa. Parece-me uma boa metáfora visual para o estado geral da União Europeia. Estamos desesperados, começa a haver casos de canibalismo, não se vislumbra a mínima possibilidade de socorro no horizonte. No entanto esbracejamos furiosamente.

Valha-nos Deus.

quinta-feira, setembro 01, 2011

Amigos da Líbia

Estão reunidos em Paris uns quantos amigos da Líbia. Sim, são amigos do país, a Líbia, assim mesmo, em abstracto. Alguns já o são há muito tempo, outros serão mais recentes. Incluo umas quantas imagens para que possamos recordar algumas dessas amizades,
É fácil perceber que isto de ser amigo de um país obriga a tomar atitudes um tanto... como dizer? Um tanto discutíveis? Ou será esta amizade aquilo que poderemos designar sem rodeios como uma amizade de merda?